Por Antônio Sanches, analista de research da Rico
De maneira simplificada, os trabalhadores brasileiros podem atuar como registrados sob o regime de leis trabalhistas (CLT) ou como Pessoa Jurídica (PJ). Cada modalidade tem suas nuances e atrativos, especialmente ao considerarmos benefícios importantes do regime CLT, como férias remuneradas, 13º salário e FGTS.
Pensando nisso, preparamos uma análise para ilustrar quanto um trabalhador PJ precisa receber para ter uma base financeira equivalente à de um trabalhador CLT.
Quais os benefícios de um CLT?
Para começar, vamos explorar os principais benefícios que um trabalhador CLT recebe:
- Férias Remuneradas: Quem não gosta de tirar uma pausa merecida e ainda ser pago por isso? Um salário adicional por ano só para você relaxar.
- 13º Salário:Aquele presente anual que vem bem a calhar, um salário extra que ajuda a fechar o ano no azul.
- FGTS:Um depósito de 8% do salário mensal, que funciona como uma poupança forçada, mas pode ser um grande alívio em momentos de necessidade.
Mão na massa — ou melhor, na calculadora!
Para simplificar nossa análise, vamos calcular o impacto desses benefícios considerando um salário mensal bruto de R$ 2.000. A partir daí, calculamos o valor anual dos benefícios:
- Férias Remuneradas: R$ 2.000 * 33% = 660
- 13º Salário: R$ 2.000
- Salário Base anual = 24.000
- FGTS: 12 x R$ 2.000 x 8% = R$ 1.920
Conforme acima, o total de benefícios anuais chega a R$ 4.580,00.
Somando esses valores ao salário anual, um trabalhador CLT teria um total de R$ 28.580,00 em recebimentos no ano, resultando em um valor médio mensal de R$ 2.381,67.
Assim, podemos concluir que um trabalhador PJ precisaria receber cerca de 19% a mais para se equiparar a um CLT, considerando apenas esses três benefícios nessa faixa salarial.
Mas a história não acaba por aí! Muitos contratos CLT incluem ainda vale-refeição, vale-alimentação, plano de saúde e odontológico, seguro de vida, previdência privada, entre outros. Esses adicionais podem ampliar ainda mais a diferença entre o que seria necessário para um PJ alcançar o mesmo nível de proteção financeira.
Por outro lado, os impostos cobrados podem impactar consideravelmente esse cálculo. Afinal, quanto maior a faixa salarial, maior é o imposto retido na fonte do salário do CLT.
Veja abaixo a tabela para a base de cálculo mensal a partir de fevereiro de 2024.
Base de Cálculo (R$) | Alíquota (%) | Parcela a Deduzir do IR (R$) |
Até R$ 2.259,20 | 0% | R$ – |
De R$ 2.259,21 até R$ 2.826,65 | 7,50% | R$ 169,44 |
De R$ 2.826,66 até R$ 3.751,05 | 15% | R$ 381,44 |
De R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68 | 22,50% | R$ 662,77 |
Acima de R$ 4.664,68 | 27,50% | R$ 896,00 |
Fonte: Ministério da Fazenda.
Quando executamos o mesmo cálculo considerando a remuneração média do brasileiro, segundo a PNAD de fevereiro de 2025, vemos que um CLT que recebe R$ 3.378,00 — com os benefícios mencionados — precisaria receber cerca de 15% a mais como MEI para se equiparar financeiramente.
Assim, quanto maior o salário mensal, melhor tende a ser o resultado líquido para o trabalhador MEI, que contribui com um valor fixo aproximado de R$ 72,00 de imposto até o limite de R$ 81.000,00 de faturamento anual. Ultrapassando esse valor, a empresa precisa migrar para o regime Simples Nacional, onde a tributação é consideravelmente mais alta.
Planejamento financeiro é essencial para o PJ
Optar pelo regime PJ pode oferecer maior flexibilidade e, potencialmente, uma remuneração líquida mais alta. Porém, como vimos, é fundamental ter um planejamento financeiro rigoroso para compensar a ausência dos benefícios garantidos pela CLT.
Uma maneira inteligente de construir uma base sólida é investir de forma consciente e disciplinada: diversificando seus investimentos, reservando uma parte dos rendimentos para imprevistos e até planejando por conta própria suas férias e “13º salário”.
Lembre-se: a liberdade financeira não vem apenas da capacidade de ganhar mais, mas da habilidade de planejar e gerir bem o que se ganha.